sábado, 18 de outubro de 2014

Calcinhas Secretas

 IGNÁCIO DE LOYOLA BRANDÃO

Caminhando pelas calçadas congestionadas por camelôs que pagam propinas aos vereadores e, portanto, estão autorizados a montar suas barracas, ele hesitava diante da quantidade de bancas vendendo calcinhas e sutiãs. Desde que a Tiazinha começara a ter sucesso, as bancas exibiam modelos os mais diferentes, procurando excitar as mulheres na conquista dos amados. Percebeu que parte dos compradores eram homens e ficou na dúvida. Para eles mesmos ou para as mulheres? Parou diante de uma nordestina de rosto marcado por sulcos profundos e escolheu uma calcinha vermelha, uma preta aberta na frente e duas de renda. “Se levar meia dúzia, ganha uma de brinde”, disse a vendedora, com os olhos iluminados pela esperança. Como na feira, pensou ele. Quem compra quatro pastéis leva um de brinde. Por toda parte, promoções para segurar freguês.
Em lugar de calcinhas, pediu dois sutiãs e a vendedora mostrou-se agradecida. “Tomara que façam sucesso, que ela goste e o senhor volte.” Ela goste! A vendedora não podia, nem de longe, prever as intenções dele. Era uma idéia que não tinha ocorrido de repente, ali, diante do mar colorido de peças íntimas. Foi almoçar no Ponto Chic, tomou dois chopinhos, um antes do Bauru, outro depois, consultou o relógio e seguiu para o cinema. Já havia uma fila, Med Gibson tem um fã-clube no centro da cidade. A sala estava fresca. Escolheu uma fileira central, espectadores vieram sentar-se perto, ele trocou de lugar. Foi mudando até localizar-se em um canto deserto.
Vibrou com o Mel Gibson distribuindo porradas e tiros. Decidiu abrir o pacote e, no escuro, não soube qual das calcinhas estava sendo retirada. Não importava. Deixou a peça pendurada no braço das poltronas, pensou melhor, apanhou um sutiã, jogou no chão e mudou de lugar. Era mais completa a ação. Instalou-se num ponto estratégico e ficou à espera. O filme terminou, as luzes acenderam-se, as pessoas começaram a sair. Suspense. Será que ninguém veria as calcinhas? Uma mulher bateu os olhos, virou-se para o companheiro, apontou. Os dois gargalharam: “Aqui foi quente. Aqui, sim, passou uma máquina mortífera.” Sentaram-se, espantados e curiosos, para saborear reações. Um senhor deu com a calcinha, reprovou com um gesto de cabeça. Não demorou para que se formasse um grupo que ria, comentava e imaginava o que se teria passado no escuro da sala. Alguém descobriu o sutiã no chão, os murmúrios cresceram. O mistério aumentou.
Um policial surgiu para ver o que acontecia. Chamou o lanterninha, um velho manco. O homem contemplou as peças rendadas e ficou parado, sem decidir o que fazer. Não teve coragem de pegar as peças. Sabe-se lá o que tinha acontecido. Disse: “O faxineiro cuida disso.” O seu rosto mostrava assombro e alegria. Algo de diferente acontecia na mesmice das sessões. Seu trabalho era quase inútil, ninguém mais precisava de um orientador no escuro. Permanecia no posto pela amizade do exibidor, com quem começaria trinta anos atrás. Sempre de lanterna na mão. Devia ser o último de uma categoria em extinção. As condições de trabalho tinham piorado tanto, que ele era obrigado a comprar do próprio bolso as pilhas para a lanterna. O que fazia com alegria, uma boa luz era o seu orgulho.
O policial ficou exasperado: “Vejam que imortalidades se passam num cinema. Se eu pegasse o elemento! Chamem o gerente.” O que podia fazer o gerente? Suas atribuições não eram no escuro da sala. Situação para o lanterninha: “Eu? Quer dizer que tenho de passar a sessão inteira varrendo a sala com a lanterna? Vai ser uma bronca só. Além do mais, gastaria dez pilhas por semana. Isso é com a policia, que fica assistindo a filme de graça.” O policial irritou-se: “Isso não pode ficar assim.” E o gerente: “O que vamos fazer?”



Calcinhas secretas II


A nova sessão começou, o gerente voltou à sua sala, o lanterninha e o policial passaram vinte minutos rodando pelos corredores, aproximando-se dos casais. Postavam-se diante deles, ostensivamente; o lanterninha iluminava-os, tentando surpreendê-los. O que provocou protestou de um homem, que se levantou, interpelando-os duramente. Com medo, o lanterninha retirou-se e o policial pareceu desistir. O homem que tinha levado o pacote de calcinhas esperou dez minutos, rondou à procura de outro lugar estratégico, repetiu a operação, deixando a calcinha à vista. Mudou de lugar e outra vez colocou pistas falsas. Aguardou.
No intervalo, as pessoas fizeram grupinhos diante das calcinhas espalhadas e logo gerente, lanterninha, policial, faxineira e dois funcionários do cinema correram, nervosos: “O que está acontecendo? Se fosse uma sala de quinta, que exibisse pornôs, eu entenderia. Mas esse é o último cinema do centro que conserva sua dignidade.” O gerente colocou os dedos no nariz do policial: “Resolva o assunto. O senhor só assiste aos filmes numa boa, come cachorro-quente de graça, dorme lá atrás em cada sessão.”
O policial riu: “Pensa que é meu chefe?" Deu as costas e foi ao hall, encostou-se no balcão da antiga bombonnière, pediu um cachorro-quente completo. A mulher reclamou: “Um só por dia, por favor." Ele tinha vendido bombons e chocolates, balas e dropes, mas tivera de mandar de ramo; escolheu sanduíches rápidos e baratos. “O que está acontecendo lá dentro? O gerente ficou passado.” O policial riu: “O pessoal anda mandando brasa dentro da sala.”
O homem que tinha levado as calcinhas contemplou, deliciado, o alvoroço, desfrutou a perplexidade e imaginou a curiosidade de cada um. Teriam assunto para os escritórios, os clientes, o jantar em casa. Pena que não tivesse jornalista na platéia. Que boa idéia! Por que não telefonar para alguns? Chamar o Merten, o Zanin Oricchio, o Ignácio de Araújo, o Inimá Simões. O homem das calcinhas, diga-se como esclarecimento necessário, adorava cinema, lia colunas, recortava críticas. Quem sabe o Inimá escrevesse um livro: O erotismo nas salas?
No dia seguinte, o homem das calcinhas mudou de cinema e refez a operação, com sucesso. Foi repetindo a artimanha, percebendo gerente cada vez mais intrigados. Deliciados, remuniciava-se na banca da nordestina de rosto marcado, tinha simpatizado com a mulher. Ela, no entanto, não entendia por que aquele homem comprava tantas calcinhas e sutiãs. Seria um revendedor? Ou eram para uso próprio? Que tipo de uso? Quem era esse homem? Um tarado?
Esgotados os cinemas do centro, ele foi para o shopping. Os resultados foram melhores. No primeiro dia, deu a maior repercussão. Um pai ia sentar-se com as filhas, percebeu a calcinha no chão. Chamou o gerente, chamou todo mundo, fez escândalo, chamou o administrador do shopping, gritou que ia processar, retirou-se empurrando as jovens que riam, excitadas. E o homem das calcinhas repetiu a operação na sala 2, sem tanto estardalhaço, mas, de qualquer maneira, provocando igual assombro. O que se notava era a decepção das pessoas que gostariam de ter visto o acontecido. Numa segunda sessão, ele observou que quase ninguém prestava atenção no filme, as pessoas ficavam olhando em volta, mudavam de lugar, sentavam-se perto de casais, não importava a idade. Quando, ao acender as luzes, encontravam as calcinhas e sutiãs, era um murmúrio de frustração.
Percebeu que aquelas salas começavam a lotar, todo mundo procurando resolver o mistério das calcinhas que surgiam no escuro. Só que, com então, começou a espalhar calcinhas nos banheiros de restaurantes, ônibus, metrô, portas de cursinhos, escadas de emergência dos prédios, elevadores, por toda parte. E foi gerando curiosidade. Gastava seu salário e rejubilava-se porque as rádios e televisões começaram a comentar, os jornais procuravam o casal misterioso que transava por toda parte. Houve até mesa-redonda na TV com a Silvia Poppovic discutindo com bom humor a moralidade vigente.
E ele coleciona recortes, cola em álbuns. Interrompe a operação por um mês, retoma em local inesperado, o assunto volta à tona. E de sua janela, num apartamento da Praça Roosevelt, ele contempla a cidade que jamais vai decifrar o enigma. E considerando-se um privilegiado, dono de um segredo que intriga a todos, nem sente a dor da solidão em que vive e já se impregnou nele.


ANÁLISE CRÍTICA

Mylena Santos n°31

 

Calcinha Secreta,  é uma crônica digamos assim que me deixou curiosa , não gostei disso , achei super estranho os Homens comprarem as Lingerie e desnecessário o Senhor compra-las e jogara no chão do cinema. Dificultando o trabalho do Lanterninha .

 

Calcinha Secreta II

 Não gostei , deu a entender que o senhor que comprava as Lingeries só estava querendo chamar a atenção , e ficar conhecido , mesmo ninguem sabendo quem ele era . As pessoas pensavam muitas coisas sobre ele , isso para ele era bom . Mais desnecessário para a crônica, um Homem comprar tantas Lingerie só para causar polemicas.

 

Graziela Oliveira nº 43

 

O conto Calcinhas secretas, fala sobre um homem que compra lingeries e depois disso vai ao cinema e espalha algumas dessas peças, para poder ver a reação das pessoas que estavam lá assistindo ao filme. É uma situação não muito comum, até por que homens dificilmente compram lingeries. É até um conto interessante, porém não faz muito sentido, ele comprar essas peças e depois ir ao cinema, é um pouco confuso, não conseguimos saber o que a personagem realmente quer.

A continuação do conto tem um desfecho um tanto intrigante, pois o objetivo da personagem era apenas espalhar as lingeries e ver as reações das pessoas, o que não faz muito sentido para um homem adulto ter este tipo de comportamento. De tanto fazer isso, ele conseguiu chegar as tv’s e ninguém nunca descobriu quem fazia aquilo, as pessoas queriam saber qual era o casal que transava por todo lugar, mas mal sabiam eles que nada acontecia, apenas um homem tentando causar polêmicas.


Mariana Santos n°28

A crônica Calcinhas secretas, diz a respeito que homem queria provocar uma reação nas pessoas, ele teve a ideia de comprar lingeries e espalhar pelo cinema, público teve uma reação e se perguntaram para si mesmo “que casal está transando no cinema”, e nunca descobriram que foi um homem que compro a lingeries e jogou pelo cinema. Achei super interessante essa crônica porque hoje em dia homem não compra lingeries e da parte do homem ele foi bastante ousado.

Rayane Silva n°32

Esse conto calcinhas secretas tem muito haver com os dias de hoje,porque tem muitos homens fingindo ser o que nao é,o policial que ganho por aquilo que ele nao esta fazendo,ou seja ele ganho pra esta protegendo a população ,esta de olho no que esta acontecedno,só que na verdade ele esta preocupado com o seu bem-estar.E o casal que tem relações dentro do cinema,isso é um ponto muito negativo pois acontece nos dias de hoje dentro de uma sala de cinema ,então aquilo que era pra ser uma coisa divertida,acaba sendo imoral,pois é um lugar frequentado por familias ,criança de certa forma acaba destruindo uma moral .
O segundo conto esta tratando de um homem que por pura diversão sacaneia o unico lugar onde se conserva a dignidade.O homem das calçinhas quer chama atenção querendo levar o tal assunto ao jornalista,mostrado a verdadeira realidade que acontecia dentro da sala de cinema.Ele esta mostrado que as salas de cinema,nao estava servino somente para filmes,mais sim para os casais praticar suas necessidade sexuais.Ele mostra que em toda parte que as pessoas vão ou estão há uma atração sexual uma pela outra e naquele que ela estão elas praticam sem se precupar com as opinião alheias,mas sim precupados .

Elom n°12

Eu fiquei com um enorme ponto de interrogação na cabeça depois de ler essa crônica de Ignácio de Loyola Brandão. Pelo qual motivo eu compraria várias calcinhas e sutiãs e depois jogaria nos corredores do cinema para criar duvida e intriga? E isso realmente me intriga. Qual foi o motivo desse rapaz fazer tudo isso? Tenho três hipóteses para isso. Primeira e mais aparente: o cara quer ter seus quinze minutos de fama. Segunda: Ele queria ver um flagra e mostrar que em cinemas tem mais pessoas fazendo sexo do que em um local apropriado, ou Terceira: quer se divertir com a reação e repercussão dos casos causados por ele mesmo.
Nessa segunda parte é que fica marcante a duvida. Por que ele anda fazendo isso? Minha conclusão é querer mostrar que as pessoas fazem sexo em tudo que é parte, e ainda se divertir com esse mistério todo. Isso realmente acontece, não é mesmo? Creio que esse é o ponto principal, o autor mostrar que isso acontece realmente, e nós não percebemos.


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