Moro em um
pequeno vilarejo sem nome. Isso, sem nome algum! As tentativas da minha mãe de
colocar um nome neste lugar ficaram apelativas: cartazes por toda parte e o uso
da internet. Ainda fico surpresa desse meio de comunicação funcionar aqui, com
menos de cem habitantes. Essas ideias não me deixam louca, apenas entediada.
Trabalho num supermercado, pelo que dizem se localiza no centro. Eu estava super atrasada e irritada.
- Vamos Hênera! Seu turno hoje é mais tarde, pare de embolação.
- Calma, só fui pegar a bolsa. Beijos.
Trabalho num supermercado, pelo que dizem se localiza no centro. Eu estava super atrasada e irritada.
- Vamos Hênera! Seu turno hoje é mais tarde, pare de embolação.
- Calma, só fui pegar a bolsa. Beijos.
Meu horário
no trabalho era das dezoito horas à meia-noite, mas hoje ia perdurar até uma
hora da manhã. Ela só me alertava em ter cuidado com as ruas à noite na volta
para casa. Morar nesta “imensidão” não facilitava as coisas. Não estava livre
dos perigos, pois segundo o povo indignado, um estuprador estaria rondando os
cantos deste lugar. Isso não me despertava medo e sim preocupação. Mas fora
isso eu estava normal.
Sempre na volta para casa eu ouvia uma melodia, não era uma melodia qualquer; parecia ser tocada por um profissional. O som acusava vir de um beco próximo ao supermercado. O dono das canções era um senhor morador de rua. Velho, e com as mãos desgastadas por tocar um instrumento de sopro, a única coisa que o devia confortar era seu colchão sujo e o pequeno instrumento. As melodias agradavam meus ouvidos, eram lindas demais e eu era incapaz de não o presentear com alguns trocados.
- Fico agradecido pequena Lua da Meia-Noite...
Sempre na volta para casa eu ouvia uma melodia, não era uma melodia qualquer; parecia ser tocada por um profissional. O som acusava vir de um beco próximo ao supermercado. O dono das canções era um senhor morador de rua. Velho, e com as mãos desgastadas por tocar um instrumento de sopro, a única coisa que o devia confortar era seu colchão sujo e o pequeno instrumento. As melodias agradavam meus ouvidos, eram lindas demais e eu era incapaz de não o presentear com alguns trocados.
- Fico agradecido pequena Lua da Meia-Noite...
Além de ser
bem simpático era talentoso. Nunca o tinha visto aqui e nem menos escutado suas
músicas. Talvez seja meu horário. Ele deve ter gostado do agrado e tocou mais
serenamente.
- São ótimas senhor! Você se daria bem no ramo musical.
- Qual é seu nome pequena lua?
- Hênera.
- Ah sim, Hênera! Lindo nome, brilho excepcional.
- Ah...obrigada! E... seu nome é?
- São ótimas senhor! Você se daria bem no ramo musical.
- Qual é seu nome pequena lua?
- Hênera.
- Ah sim, Hênera! Lindo nome, brilho excepcional.
- Ah...obrigada! E... seu nome é?
Ele me respondeu com um simples
sorriso. Agora meus expedientes se somavam nessa rotina, inventar desculpas
para a minha mãe e passar mais tempo com o humilde senhor da flauta. Na noite
seguinte ele estava sentado em seu banco e preparado para tocar seu instrumento
de sopro. No momento em que me viu, sua boca inspirou o ar para dentro e se
soltou, fazendo cada dedo tampar os buraquinhos. Eu não tinha palavras para o
que saia daquele objeto. Eu simplesmente fiquei quieta admirando a harmonia do
som melódico. Foi a melhor noite que já tive, não contive minhas lágrimas, a
música transmitia alegria e tristeza juntas.
- É maravilhoso! Como ela se chama?
- Não tem nome pequena lua da meia-noite, só sinta.
- Por que não procura algo em cima de seu talento?
- Ah linda moça! Você alegra o coração do velho, porém só toco para o doce vento e intenso escuro. A noite tem de ser bela e nunca esquecida.
- Muito bonito! Mas eu infelizmente preciso ir, minha mãe deve estar preocupada. Não me esquecerei de passar aqui.
Eu estava prestes a virar a calçada.
-Pequena lua?
- É maravilhoso! Como ela se chama?
- Não tem nome pequena lua da meia-noite, só sinta.
- Por que não procura algo em cima de seu talento?
- Ah linda moça! Você alegra o coração do velho, porém só toco para o doce vento e intenso escuro. A noite tem de ser bela e nunca esquecida.
- Muito bonito! Mas eu infelizmente preciso ir, minha mãe deve estar preocupada. Não me esquecerei de passar aqui.
Eu estava prestes a virar a calçada.
-Pequena lua?
-Sim?
-Nunca se esqueça da luz que guarda em seu coração.
Suas palavras e suas melodias
começaram a fazer parte da minha memória. Eu não estava pronta para receber a
notícia tão previsível. Não pude visitá-lo por problemas familiares, mas na
segunda-feira não o vi, o beco estava interditado e a notícia veio a calhar do
meu chefe. Tinha sido espancado pela vizinhança até a morte, após descobrirem
que era o estuprador que tanto falavam. Meus ouvidos não estavam preparados
para tal notícia, eu era incapaz de acreditar! Eram só boatos, como puderam
fazer isso? Eu estava horrorizada.
Depois dos fatos contados, eu só via
a minha sombra. A noite passou a ser quieta, e o beco... bem, não teve mais
existência para mim. A noite se tornou mórbida. E aquele pobre senhor, virou
fruto das minhas lembranças.
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